Já é quase um consenso que o turismo movimenta a economia, é extremamente virtuosa aos negócios e também emprega um grande número de pessoas. Apesar disso, em diferentes locais no mundo e também no Brasil, existem exemplos onde o turista não é desejado e os benefícios mencionados não sobrepõem os malefícios causados pela atividade turística não controlada. E aí reside um grande desafio, afinal qual é de fato a importância do turismo para as pessoas envolvidas e para a municipalidade que o hospeda?
Enquanto viajar é algo desejado por todos e infelizmente disponível para poucos, a quantidade de pessoas que trabalham direta e indiretamente ou são afetadas pelas atividades turísticas é significativa. Fica muito mais fácil entendermos o lado dos turistas quando também exercemos esse papel.
Da mesma forma é muito mais fácil para um profissional do setor hoteleiro entender o ponto de vista de seus hóspedes, na medida em que ele também tiver a oportunidade de se hospedar. O mesmo vale para o garçom, cozinheiro, manobrista, massagista, entre outras inúmeras funções dentro da cadeia de hospitalidade. Seremos melhores prestadores de serviço, quando também tivermos a possibilidade de adquirir serviços semelhantes e vivenciarmos o outro lado dessa experiência.
A dificuldade está em fechar essa equação, como garantir que todos tenham a oportunidade de vivenciar o turismo? Como garantir que as experiências de viagem não sejam uma oportunidade apenas para aqueles que conseguem pagar diárias elevadas, além de refeições e transportes proibitivos. Para que isso exista, são necessárias opções inclusivas e que garantam à atividade turística, o desempenho de seu papel também social.
O turismo precisa desempenhar seu papel social e inclusivo. Através do turismo podemos entender melhor o mundo, as pessoas, aceitar a diversidade e nos colocarmos no lugar do outro. O turista precisa ser incentivado a consumir no local, e para que isso ocorra, são necessários preços justos e ofertas customizadas para o público alvo.
Isso não inclui apenas o preço justo na hospedagem e nas refeições, mais alguns outros detalhes que podem fazer diferença nessa inclusão. Disponibilidade de água filtrada gratuita, opções de tamanhos diferentes para bebida a pagamento, como por exemplo um refrigerante 2 litros ou uma garrafa de água de 1,5 litros para famílias maiores. Preços justos para os produtos e serviços extras, que garantam ao mesmo tempo o acesso do turista a essa confortável opção disponível no local e ao mesmo tempo garantam o justo retorno do investimento e do trabalho que o prestador teve ao disponibilizá-lo aos seus clientes.
O envolvimento da comunidade local além de desejado é extremamente rico e virtuoso para os negócios. Os turistas de hoje não se interessam apenas pelos atrativos turísticos ou pelas ótimas oportunidades de hospedagem e alimentação. Eles desejam uma experiência diferenciada, conhecer pessoas e realidades locais, interagir com o entorno e com sua população.
Exposição de produtos locais pela população local, utilização de insumos da região, entretenimento com artistas locais, visitas em áreas não tradicionalmente turísticas, são algumas entre outras possibilidades de inclusão ampla da municipalidade na atividade turística. Como consequência, favorecemos o senso de pertencimento dos locais dentro da cadeia de hospitalidade.
Quando somos partes do processo, nos tornamos parceiros sensíveis e também responsáveis por toda a experiência dentro da cadeia de hospitalidade. Na medida que esse envolvimento ocorre, todos os lados se beneficiam, o turismo, o turista, a municipalidade e seus munícipes ganham. Quando mais acessível forem as opções turísticas, mais pessoas vivenciarão experiências completas e diferenciadas, formando um ciclo virtuoso onde a cultura da inclusão gerará um senso de pertencimento que contribuirá para serviços e produtos únicos e diferenciados.
Revista Infood
Este texto foi originalmente publicado pela revista Infood em 20/11/2019